Por que a Argentina foi destino de tantos nazistas após a Segunda Guerra Mundial?

Antes que a Segunda Guerra Mundial iniciasse, em 1939, os ideais nacionalistas da extrema-direita ganharam espaço; ora se aproveitando do cenário econômico delicado, ora por meio de discursos que estimulavam o revanchismo. Isso ocorreu até que assumissem o controle de diversos Estados — o que foi observado na Alemanha e Itália, por exemplo, onde o nazismo e o fascismo se espalharam gradualmente.

Fato é que, após terminado o conflito, em 1945, os mais de 70 milhões de mortos não foram a única perda. Para os que sobreviveram em áreas que se tornaram campo de batalha, era necessário reconstruir não só a própria vida, como o próprio país. Já para aqueles que apoiaram o massacre e a perseguição às minorias, o objetivo era buscar refúgio para não responder pelos crimes cometidos e não acabar nas mãos dos Aliados.

(Fonte: Getty Images)

Dentre os destinos mais considerados entre os nazistas, a Argentina era um deles — o que se confirmou ao longo dos anos seguintes ao término da guerra. Quais motivos estariam por trás disso?

Posicionamento do governo argentino em meio ao conflito

Juan Domingo Perón foi presidente da Argentina entre 1946 a 1952, de 1952 a 1955 e também de 1973 a 1974. Em seu governo, os nazistas encontraram não só um político simpático ao regime, mas também um aliado disposto a receber alemães em seu território.

Vale lembrar, no entanto, que as relações entre os países eram anteriores ao governo de Perón, dado que a Argentina já tinha sido o destino escolhido por muitos imigrantes alemães após a Primeira Guerra Mundial. Com a chegada do Terceiro Reich, Hitler buscou fortalecer relações com as comunidades alemãs espalhadas fora dos seus domínios.

Isso se refletiu em escolas e associações religiosas, entre outras organizações alemãs presentes em solo argentino. Um dos exemplos mais sombrios desse alinhamento se mostra por meio de uma determinação, criada em 1938, que vedava a emissão de vistos a judeus que desejassem entrar na Argentina. Porém, ao unir-se com os Aliados, em 1945, ficou mais evidente a dualidade do posicionamento argentino.

Nesse período, Perón ainda lutava para conquistar o poder em meio a instabilidades políticas, assumindo o governo apenas no ano seguinte. Mas sua influência já era exercida anos antes da posse, uma vez que ele participou do golpe de estado que ocorrera em 1943 no país.

 Juan Domingo Perón, que aparece à direita, permitiu a entrada de nazistas na Argentina. (Fonte: Getty Images)

A Argentina como refúgio dos nazistas

A partir das rotas de fugas que ficaram conhecidas como “ratlines”, estima-se que 5 mil nazistas tenham fugido para a Argentina. Inclusive, essa migração também foi aceita por outros países desenvolvidos. Considerando ainda que muitos nazistas partiam da Itália para a América do Sul, o auxílio dado por membros da Igreja Católica é lembrado como um dos motivos para o sucesso desse plano.

Adolf Eichmann, um dos principais nomes do holocausto, também estava entre os fugitivos. Preso na Argentina em 1960 por membros do serviço secreto israelense, ele foi condenado e executado dois anos depois. Mas a maioria dos criminosos não pagou pelas suas atrocidades.

Dentre eles, o médico Josef Mengele, que viveu em solo argentino e morreu no Brasil, escapando da justiça. Acusado de estar diretamente envolvido no genocídio e nos mais cruéis experimentos humanos, ele teria fugido da Alemanha em 1945, chegando na Argentina em 1949. Após outras fugas, em 1961, ele se mudou para o Brasil.

Chile, Paraguai e Uruguai também foram outros destinos procurados pelos nazistas, que chegaram na América do Sul com nomes falsos e dinheiro roubado dos judeus perseguidos. As marcas deixadas pelas decisões tomadas nesse período da história argentina foram significativas. Passadas décadas depois, hoje o país abriga uma das maiores comunidades judaicas fora de Israel.

 

* Esta publicação não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Fala Santarém

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