Escrita misteriosa da Ilha de Páscoa é anterior à colonização europeia

Para tentar localizar no tempo a origem de uma escrita indecifrada, o rongorongo, criada pela civilização indígena Rapa Nui na ilha de mesmo nome, mas também conhecida como Ilha de Páscoa, uma equipe internacional de pesquisadores decidiu submeter quatro tabuinhas com inscrições a testes para datação por radiocarbono. 

O resultado mostrou que uma das tábuas rongorongo, que haviam sido preservadas em Roma, teve como origem uma árvore derrubada no final século XV ou início do XVI. Isso significa que a inscrição foi feita pelo menos dois séculos antes da chegada dos europeus à ilha, na década de 1720.

O estudo, publicado recentemente na revista Scientific Reports, apoia de forma convincente a tese de que o rongorongo é um dos poucos sistemas de escrita conhecidos que foi inventado de forma independente. No entanto, como grande parte do território de Rapa Nui, e de sua própria história, sua escrita acabou também se tornando vítima da destruição.

O rongorongo é uma invenção dos ilhéus de Rapa Nui

(Fonte: Getty Images)

Embora seja mundialmente conhecida pelas monumentais esculturas moai lá existentes, a ilha da Páscoa (nome imposto pelos colonizadores europeus) possuía uma escrita própria, ignorada completamente pelos estrangeiros até 1864. Quando perceberam se tratar de uma forma de comunicação, os missionários enviaram as pequenas tábuas para o exterior.

Desviadas ou destruídas de propósito, as pequenas tabuletas com inscrições em rongorongo se resumem atualmente a 27, nenhuma das quais mantidas na ilha. De acordo com o estudo, os textos são relativamente longos e escritos em sinais pictóricos, geralmente chamados de glifos.

Primeira autora do artigo, a filóloga italiana Silvia Ferrara, da Universidade de Bolonha, explicou ao LiveScience que, em vez de serem influenciados pela escrita que eles viram sendo usada pelos europeus, os ilhéus Rapa Nui inventaram originalmente o rongorongo.

Tentando entender o rongorongo

Fonte: Jacques B. M. Guy/Wikimedia Commons)

O que dificulta a compreensão do rongorongo é que os glifos, além de complexos, não se parecem com nenhum tipo de letra europeia, nem de outras culturas, o que reforça a teoria de que se trata de uma forma de escrita inédita e independente. “Historicamente falando, se você pega emprestado um sistema de escrita, então você o mantém o mais próximo possível do original“, destaca Ferrara.

E, ainda que seja difícil comprovar que o contato com civilizações alfabetizadas possa ter inspirado o rongorongo, é inegável que os glifos pictóricos são diferentes de qualquer tipo de escrita conhecida no mundo. Na verdade, se há algum tipo de semelhança é com os motivos da antiga arte rupestre encontrada na própria ilha

No entanto, epidemias de doenças trazidas pelos europeus e ataques e sequestros esporádicos de traficantes de escravos peruanos dizimaram a população de Rapa Nui e, com ela, perdeu-se uma escrita independente, como a dos sumérios, egípcios e chineses.

 

* Esta publicação não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Fala Santarém

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