Mistério de múmias dos pântanos pode ter sido desvendado
Em uma revelação surpreendente que expande nosso entendimento da história europeia desde a pré-história até os primeiros tempos modernos, pesquisadores internacionais desvendaram os segredos dos corpos encontrados nas turfeiras do continente, conhecidos como múmias do pântano. Estas áreas úmidas se parecem com cápsulas do tempo, preservando restos humanos por milênios.
O estudo, publicado na revista Antiquity pelo doutor Roy van Beek e sua equipe, analisou mais de mil dessas múmias, revelando uma tradição que remonta ao Neolítico, cerca de 5000 a.C., e se estende até a Idade Média e o início da era moderna.
O poder preservador dos pântanos
Homem de Tollund (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Esses corpos, muitas vezes excepcionalmente bem preservados, como o Homem de Lindow, no Reino Unido, o Homem de Tollund, na Dinamarca, e a Garota de Yde, nos Países Baixos, oferecem uma visão única da vida e da morte na antiguidade. Esses indivíduos, muitos dos quais foram vítimas de mortes violentas, são frequentemente interpretados como sacrifícios humanos, embora a pesquisa também tenha identificado casos de falecimentos acidentais e suicídios nas turfeiras nos últimos séculos.
A pesquisa categorizou os espécimes encontrados em três tipos principais: múmias do pântano, com pele, tecidos moles e cabelos preservados; “esqueletos do pântano“, no qual apenas os ossos permaneceram; e restos parciais de múmias ou esqueletos. A variação nos tipos dos cadáveres revelados reflete as diferentes condições de preservação das turfeiras, algumas favorecendo a conservação de tecidos humanos, enquanto outras preservam melhor os ossos.
Novas descobertas resgatam ritos ancestrais
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Os estudiosos descobriram que a ênfase anterior na pesquisa arqueológica em um pequeno grupo de múmias do pântano espetacularmente preservadas distorceu a compreensão desse fenômeno. Ao examinar todos os três tipos, uma nova perspectiva surge, revelando uma tradição profundamente enraizada e de longa duração. Este costume começou no sul da Escandinávia e gradualmente se espalhou pelo norte da Europa, com os achados mais recentes na Irlanda, no Reino Unido e na Alemanha, indicando que a tradição continuou até a Idade Média e o início dos tempos modernos.
Além disso, a pesquisa identificou o melhor lugar para estes cadáveres, áreas úmidas onde os restos de várias pessoas foram encontrados. Em alguns casos, esses achados refletem um único evento, como o enterro em massa dos mortos em batalha, enquanto outras turfeiras foram usadas repetidamente, com os restos humanos acompanhados por uma ampla gama de outros objetos interpretados como oferendas rituais. Estes ambientes são vistos como locais de culto, e teriam ocupado uma posição central no sistema de crenças das comunidades locais.
O estudo não apenas desafia a compreensão anterior das múmias do pântano, mas também destaca a complexidade e a diversidade das práticas funerárias e rituais na Europa antiga. Revela histórias sobre temas humanos fundamentais, como violência, religião e perdas trágicas, fornecendo um vislumbre valioso para o passado distante.
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