Santarém Sedia Julgamento Simbólico da Ferrogrão e Seus Efeitos na Amazônia
Dezenas de indígenas dos povos Munduruku, Kayapó e Apiacá, além de quilombolas, assentados e especialistas, estão mobilizados para participar de uma audiência pública. Este evento, organizado por uma coalizão de entidades como a APIB, Coiab, Associação Pariri, Instituto Kabu, Movimento Tapajós Vivo, Comissão Pastoral da Terra, entre outras, visa discutir as implicações do projeto Ferrogrão. Alessandra Korap Munduruku, laureada com o Prêmio Goldman 2023 por sua luta contra a mineração industrial em terras Munduruku, figura entre as lideranças presentes. Com informações do G1 Santarém e Região.
O contexto da reunião ganha relevância diante da expectativa de uma nova decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, sobre o futuro da ferrovia Ferrogrão. No ano anterior, Moraes já havia autorizado a continuação dos estudos para o projeto, que busca conectar o centro-oeste brasileiro aos portos da Amazônia, representando uma alternativa econômica ao trajeto até o Porto de Santos. O projeto prevê uma extensão de quase mil quilômetros, ligando Sinop, em Mato Grosso, a Miritituba, no Pará.
Críticos do projeto Ferrogrão alertam para os riscos ambientais e sociais significativos. Segundo estimativas, a construção da ferrovia poderia resultar no desmatamento de 49 mil km² em 48 municípios, afetando 17 unidades de conservação, seis terras indígenas e três áreas habitadas por povos isolados. Essa área de impacto é 64% maior que o recorde de desmatamento na Amazônia registrado em 2022. Além disso, estudos apontam para a perda de mais de 285 mil campos de futebol de vegetação natural, equivalente à emissão de mais de 75 milhões de toneladas de carbono. A Ferrogrão, que está em planejamento há uma década e tem um custo subestimado de R$ 24 bilhões, enfrenta oposição não apenas por questões ambientais, mas também pela falta de consulta às comunidades indígenas diretamente afetadas.